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A Parábola dos Cegos, 1568, Pieter Bruegel; |
Todos os dias o velho descia a rua onde ficava a zona do baixo meretrício. Cego, curvado pelo peso da idade, pobre e doente, o corpo todo coberto por severas chagas sifilíticas, esfrangalhado, o miserável vagava pela cidade como um cão sarnento. Misturava-se com as putas, travestis, bêbados, cafetões, proxenetas, garotas de programas, entre outros personagens não menos desprezíveis que faziam ali o vil comércio de corpos e de almas perdidas no abismo dos delírios sexuais. Quem pensou que o velho ia à busca da luxúria ou da impudicícia, ou mesmo dos prazeres sodomitas, enganou-se redondamente. Na verdade ele estava ali diuturnamente, numa tarefa quixotesca e inútil, apregoando qual um louco, um alerta contra o pecado capital da lascívia e da devassidão.